Taxonomia
O zoólogo alemão Christian Gottfried Ehrenberg foi o primeiro a publicar em 1841, descrições de espécies de tecamebas coletadas nas Américas do Sul e do Norte. Eugène Penard, biólogo suíço, publicou livros e muitos artigos sobre protozoários (incluindo muitas espécies de tecamebas) da Europa, entre 1890 a 1911. Na região tropical os trabalhos mais importantes estão nas pranchas desenhadas pelos franceses D. Chardez, L. Decloitre, G. Deflandre L. Gauthier-Lievre, R. Thomas e P. van Oye, que entre os anos de 1920 a 1980 descreveram muitas espécies para o continente africano e também para a Venezuela. Para a Argentina citam-se vários estudos efetuados por M.C. Vucetich nas décadas de 1970 e 1980. No Brasil, citam-se as descrições de espécies de A. M. Cunha, E. von Daday e G.H. Wailes, publicados no início do século XX, e mais tarde, em 1975, quando J. Green descreveu o gênero Suiadifflugia em levantamentos que realizou no Rio Suiá-Miçu no Mato Grosso. Em 2016, registrou-se a última descrição de espécie – Arcella gandalfi – para o território brasileiro, por Féres e colaboradores.
As tecamebas possuem uma carapaça, teca ou concha, que protege a célula em seu interior e, pela abertura ou Pseudostoma (PS) se projetam os pseudópodos ou “dedos” – grossos (Filo Amoebozoa) ou finos (Filo Cercozoa) – que permitem ao organismo se locomover e capturar o alimento. Para o estudo taxonômico destes organismos as características morfológicas da concha e do PS são essenciais para determinar as famílias, gêneros e espécies. Os registros fotográficos das tecas e de suas aberturas (PS), bem como as medidas das mesmas, são uma ferramenta necessária para a confirmação das espécies. Nos últimos anos imagens em microscopia eletrônica (M.E.) e estudos moleculares tem elucidado muitas dúvidas e refinado a taxonomia das tecamebas.
Coleta de espécimes e Acervo de Imagens
A partir da década de 80 comecei os estudos das tecamebas e os registros na época foram feitos por meio de desenhos, entre 1985 a 2002 (hoje guardados depois de escaneados), descrevendo as principais características das tecas e anotando as medidas. As microfotografias se iniciaram a partir de 2003 e foram registradas com câmeras digitais acopladas à ocular do microscópio ótico e as medidas feitas com retículo milimetrado. Inicialmente os espécimes foram coletados no plâncton, no perifíton e entre as raízes ((rizosfera ou interhizon) de ambientes lênticos e lóticos. Alguns artigos com listas de espécies que identifiquei foram publicados entre 1992 a 2016 em periódicos nacionais e internacionais. Em 2008 publiquei pela editora da UFMG o livro “Guia das Tecamebas da Bacia do Rio Peruaçu”, financiado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais. No guia estão os registros fotográficos e as respectivas medidas dos espécimes encontrados, durante trabalho de levantamento da microfauna aquática, quando da elaboração do Plano de Manejo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu/ICMBIO/MMA.
Ao longo dos anos “construí” um acervo fotográfico (além dos desenhos) com os espécimes mais relevantes que fui encontrando, tanto nos ambientes aquáticos quanto em outros biótopos (musgos e líquens de troncos de árvores, de rochas e nos solos, serrapilheira (das matas e de outros biótopos) e também em água de bromeliáceas.
O esforço de coleta priorizou ambientes naturais (pouco impactados de preferência), encontrados em Unidades de Conservação, ou mesmo no seu entorno. Nesses ambientes preservados a diversidade de espécies de tecamebas comumente é muito alta e pode alcançar oitenta (80) táxons (espécies e subespécies) em apenas uma amostra.
Muitas amostragens foram feitas durante os projetos de pesquisa, executados junto a instituições acadêmicas ou contratados por meio de consultoria. Tenho registros de quase todas as regiões do Brasil, apesar de que o maior número de amostras foi obtido nas regiões sudeste, centro-oeste e sul – principalmente em Minas Gerais, Goiás e Santa Catarina.
O levantamento realizado ao longo dos anos documentou mais de 300 desenhos e aproximadamente 25.000 fotos, com as respectivas medidas, de mais de 400 amostras coletadas nos diversos “habitats”. Para cada espécime, registrou-se 3-10 fotos ou um ou mais desenhos e, na medida do possível, os detalhes taxonômicos necessários para a identificação dos táxons foram ressaltados.
Agradecimentos
Agradeço a todos os pesquisadores, amigos e familiares que de muitas maneiras colaboraram ao longo das minhas pesquisas para o êxito desse site. Em destaque aos iniciantes desse projeto, cujo ponto de partida foi a elaboração de um “Checklist” das Tecamebas do Brasil – em 2015 na IB-USP – que cederam seus conhecimentos taxonômicos de Hyalosphenidae e Euglyphida: Anush Kosakyan, Clément Duckert, Daniel Lahr e Enrique Lara e, ainda em especial, ao Pesquisador Ferry J. Siemensma, que por meio do seu site www.arcella.nl, que tanto me inspira e com sua solicitude nas conversas, sempre tira minhas dúvidas!